quinta-feira, 14 de maio de 2009

AUGUSTO BOAL

A MORTE DE AUGUSTO BOAL

A LITERATURA, as artes cênicas e sua função pragmática estão de luto. Foi cremado na tarde do último domingo o corpo do diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta Augusto Boal. Morto na madrugada de sábado, aos 78 anos, Boal foi um dos expoentes do Teatro de Arena de São Paulo (1956 a 1970) e fundador do Teatro do Oprimido (inspirado nas propostas do educador Paulo Freire). Boal era conhecido internacionalmente pela importância do seu trabalho no teatro brasileiro, levando-o a diversos países e desenvolvendo-o, principalmente, na época em que esteve exilado durante a ditadura militar. Pelo reconhecimento da importância de sua obra, no final de março recebeu da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em Paris, o título de Embaixador Mundial do Teatro.
O dramaturgo é daqueles que se imortalizam pela obra deixada – uma certa função eternizadora – pois, de Boal, pode-se dizer, como o fez Aderbal Freire que “A gente sempre diz que os mortos são insubstituíveis, mas Boal, de fato, o é. Ele é um dos deuses do arquipélago do teatro, um dos mitos da nossa religião. É uma perda irreparável “.
Augusto Pinto Boal nasceu em 16 de março de 1931, na Penha, bairro da zona Norte do Rio. Suas técnicas e práticas difundiram-se pelo mundo, notadamente nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política, mas também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional. Suas teorias sobre o teatro são estudadas nas principais escolas de teatro do mundo. No jornal inglês The Guardian, já se escreveu que "Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislavski". Isto porque Boal nos representa no Brasil e fora dele. Há livros traduzidos em francês, holandês, mais de vinte línguas. O Teatro do Oprimido é estudado em muitos países.
Ao voltar de uma temporada em Nova York - onde estudou Engenharia Química (Columbia University) e dramaturgia (School of Dramatics Arts) e pôde acompanhar as montagens do Actor's Studio, que utlizava o método de interpretação Stanislavski - em 1956, Boal passa a integrar o Teatro de Arena de São Paulo, que se tornou uma das mais importantes companhias de teatro brasileiras. Com sua experiência, incentivou a encenação de textos brasileiros, de autores como Gianfrancesco Guarnieri, o que livrou o grupo da falência, na década de 50. Essa retomada do Arena causa uma revolução na cena brasileira, abrindo caminho para uma dramaturgia nacional de nomes como Oduvaldo Vianna Filho.
A enciclopédia do Itaú Cultural traz uma análise do crítico Yan Michalski, um dos mais importantes do teatro brasileiro, sobre Boal:
"Até o golpe de 1964, a atuação de Augusto Boal à frente do Teatro de Arena foi decisiva para forjar o perfil dos mais importantes passos que o teatro brasileiro deu na virada entre as décadas de 1950 e 1960. Uma privilegiada combinação entre profundos conhecimentos especializados e uma visão progressista da função social do teatro conferiu-lhe, nessa fase, uma destacada posição de liderança. Entre o golpe e a sua saída para o exílio, essa liderança transferiu-se para o campo da resistência contra o arbítrio, e foi exercida com coragem e determinação. No exílio, reciclando a sua ação para um terreno intermediário entre teatro e pedagogia, ele lançou teses e métodos que encontraram significativa receptividade pelo mundo afora, e fizeram dele o homem de teatro brasileiro mais conhecido e respeitado fora do seu país".
Com o fechamento do Teatro de Arena, veio o Teatro do Oprimido. Boal dizia que "o Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores'". Criada no final da década de 60, em São Paulo, sua técnica utiliza a estética teatral para discutir questões políticas e sociais.
Na década de 70, enquanto esteve exilado em Lisboa, durante a ditadura militar no Brasil, Boal difundiu o método na América Latina e Europa. Na época, Chico Buarque compôs "Meu caro amigo", como uma carta em forma de música, em homenagem ao dramaturgo.
Em 2008, foi indicado ao prêmio Nobel da Paz devido ao reconhecimento a seu trabalho com o Teatro do Oprimido. No dia 16 de março do mesmo ano, atores, teatrólogos e militantes da cultura comemoraram pela primeira vez o Dia Mundial do Teatro do Oprimido. A data foi escolhida por ser a mesma do nascimento de Augusto Boal. Fica a obra! Por si mesma tão grandiosa que o imortaliza!

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